Vende-se
sonhos
Querida Anne.
Era fascinante o modo que ele me olhava, todas as noites ao me
colocar na cama, ao contar histórias para que eu pegasse no sono, coisa que só
funcionava quando eu tomava o copo de leite que sempre me trazia, parecia
magica, mas só assim me fazia dormir, calma e profundamente.
Acordava todas as manhas com mamãe me sacudindo para que eu
despertasse, precisava me aprontar para ir para a escola, eu como sempre
indisposta parecia que havia levado uma surra da cama, mas com muita relutância
obedecia e mamãe logo me colocara na van que me levava todos os dias até meu
tormento diário.
Eu sempre fui boa aluna, tinha boas notas era uma das primeiras da
classe, mas depois de um tempo comecei a me fechar, me isolava de todos, ficava
no canto da sala desatenta, sentia medo um medo que vinha de dentro de mim, as
pessoas reparavam comentavam entre si, meus colegas, a professora que chamava
minha atenção a todo instante, o que estava acontecendo comigo, me sentia presa
em um quarto gritando por socorro, mas ninguém podia me ouvir.
Uma hora ou outra mamãe era chamada a escola para conversar sobre
meu comportamento, e assim como eu ela não sabia o que estava acontecendo, ela
sempre estava ausente nunca tinha tempo para mim, não fazia ideia da falta que
isso me fazia, mas o papai não esse sempre estava presente, os carinhos que me
fazia e podia sentir que papai me amava.
Certa vez ao chegar da
escola mamãe foi me ajudar a tomar banho e percebeu algumas marcas pelo meu
corpo, assustada ela me perguntava do que se tratava aquilo, mas eu não sabia
responder, me sentia mal por dentro e transparecia por fora, mamãe achava que
poderia estar me machucando na escola, pediu para que eu tomasse mais cuidado e
ficou por isso.
Meu comportamento já preocupava a todos, eu não era a mesma menina
de antes, eu me isolava em um mundo que até para mim era desconhecido, eu
estava perdida e não sabia como voltar, as idas ao psicólogo que mamãe me
arrastava semanalmente não estavam ajudando, eu não gostava daquilo não dizia
uma sequer palavra a não ser que queria ir embora que queria o meu pai.
Eram 7:00 da manhã de sábado quando acordei de repente sentindo
fortes dores, eu chorava tanto que mamãe acordou em desespero e veio correndo
até meu quarto ver o que acontecia, ela me perguntava, mas eu apenas me
contorcia e chorava.
Fui examinada por vários médicos, e após meu atendimento mamãe foi
chamada na sala do médico e permaneceu lá por alguns minutos até sair de lá aos
prantos, eu estava com medo e não sabia o que estava acontecendo, mamãe me
abraçava e chorava me pedindo desculpa, pela ausência por não estar presente
nos momentos em que eu mais precisava, por não ver que eu estava sendo abusada,
violentada, eu percebia o sentimento de impotência em seu olhar.
Os anos foram se passando, ninguém havia sido responsabilizado pelas
agressões que sofri, nos mudamos e eu troquei de escola, mamãe queria apagar o
passado e achou que isso daria um ponto final em tudo, mas ela estava errada.
Como você pode fechar os olhos pra isso, como não percebeu que a
violência que eu sofria vinha da nossa própria casa, não era na escola mamãe,
não era algum desconhecido do bairro onde morávamos, era meu pai eu estava
sendo estuprada pelo meu próprio pai e você não viu.
Sim papai, foi você o tempo todo, todas aquelas noites em que me
dopava colocando alguma coisa em meu leite para que eu dormisse e você pudesse
me transformar em seu brinquedo sexual, todas aquelas caricias cheias de segundas
intenções disfarçadas de carinho, você não me olhava com amor você me olhava
com desejo, será que enxerga agora todo o mal que me causou, roubou minha inocência,
meu Deus eu era tão pequena.
Você deveria me amar me proteger do mundo, você era meu herói papai,
mas se tornou um monstro, e o inferno que você criou dentro de mim continua a
me queimar, dia após dia sempre que eu me recordo das suas mãos imundas no meu
corpo, eu te amava, mas agora eu sinto nojo eu te odeio papai e espero que você
apodreça e sinta tudo que eu senti todos os dias dentro dessa cela, agora vou
recolher os restos da vida que você me deixou.
ADEUS!
Da sua querida Anne.
By: Dudu Santos.
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